Holocausto Brasileiro
Uma das histórias mais trágicas do nosso país
O livro Holocausto Brasileiro foi escrito pela jornalista Daniela Arbex, sendo lançado em 06 de julho de 2013. A obra relata depoimentos de pacientes e funcionários que trabalhavam no Hospital Psiquiátrico de Barbacena, conhecido, popularmente, como Hospital Colônia. A jornalista relata em sua obra que mais de 60 mil pessoas vieram à óbito durante o funcionamento do hospital psiquiátrico que no início, era visto como um local de tratamento para pessoas de classe alta, mas que mudou radicalmente seus métodos de tratamentos e cuidados com o passar dos anos.
Figura 1: Capa da obra Holocausto Brasileiro
Fonte: https://www.intrinseca.com.br/livro/873/
Na obra, a jornalista explica como eram os setores de tratamento para os pacientes e como era feita a seleção de pessoas, que foram organizados da seguinte maneira:
Um espaço de segregação
Durante o século XIX o isolamento era prescrito para as pessoas com problemas psicológicos baseado na idéia de que os "anormais" eram vistos como um perigo à ordem social, inclusive sob as óticas da provável contaminação dos "normais". A desumanização, exploração e segregação que os pacientes do Hospital Colônia de Barbacena estavam sujeitos são aspectos constituintes de uma forma de necropolítica, tão comentada no cenário pandêmico atual, mas que já esteve presente histórico e geograficamente bem perto de nós.
Internação e sobrevivência
Arbex conta em sua obra que a ordem para a internação das pessoas na Colônia vinha da alta sociedade daquela época. Segundo a autora, quem decidia era quem tinha mais poder. Houve pessoas que foram enviadas pela imposição emanada de coronéis, delegados, maridos que queriam se livrar da mulher para poder viver com a amante. Quando chegavam ao manicômio os internados tinham uma rotina sub-humana. Eles dormiam juntos em salas grandes no chão coberto apenas por capim. Despertavam por volta das 5 horas da manhã e eram levados para os pátios, onde ficavam até 19 horas, todos os dias.
Além disso, a alimentação precária na Colônia ocasionou a desnutrição e o desenvolvimento de doenças nos “pacientes”. Segundo Daniela, eles tinham uma alimentação de péssima qualidade nutritiva. Diversas pessoas passavam fome. Houve relatos de pessoas que em momento de desalento acabaram comendo ratos ou pombas vivas. As pessoas não tinham privacidade faziam suas necessidades fisiológicas na frente de todos e quando ficavam com sede, acabavam bebendo a própria urina ou esgoto das fossas que tinha no pátio.
Vendas de Corpos
A autora relata ainda que encontrou registros de vendas de 1.823 corpos,entre 1969 e 1980, para as faculdades de medicina.Com a ajuda da coordenação do Museu Loucura,Daniela contou que conseguiram descobrir foi que 1.823 corpos foram vendidos para 17 faculdades de medicina do País.Os corpos eram negociados por cerca de 50 cruzeiros cada um. Houve uma década,que a venda de órgãos atingiu quase 600 mil reais,fora o valor adquirido com o comércio de órgãos e ossos.Arbex revela que existem documentos da vendas de corpos. Após algum tempo, o mercado parou de comprar tantos cadáveres. Então,os funcionários começaram a desintegrar os corpos dos mortos com ácido no pátio da Colônia, diante dos outros pacientes.
A atrocidade na colônia só foi descoberta pela revista O Cruzeiro, que publicou em 1961 uma reportagem de denúncia de José franco e Luiz Alfredo, entrevistados por Daniela Arbex para produzir o livro. A autora fala que houve impacto na época, porém as condições continuaram as mesmas no hospício durante muito tempo.
Em 2016, o documentário baseado na obra foi lançado mundialmente, com imagens da época em que a clínica estava em funcionamento, guardadas por um grupo de fotógrafos. Foram expostas também imagens após denúncias de como era a realidade da clínica, apenas das estruturas físicas com as marcas da história de pessoas que passaram por ali. É perceptível a desumanização dos pacientes que estavam internados no local ao visualizar as imagens expostas durante a obra. Além disso, é também notável que a maioria das pessoas internadas eram negras, o que nos leva a questionar: Mesmo após a abolição da escravidão, os negros eram aceitos em sociedade ou eram (são) vistos como objetos, pessoas inferiores e descartáveis diante dos padrões impostos pelas pessoas brancas e de classe alta do país?
Figura 2: Documentário Holocausto Brasileiro
Fonte:https://livrariataverna.com.br/ciencias-humanas/1898-holocausto-brasileiro-daniela-arbex-9788581301570.html
É imprescindível que a sociedade brasileira conheça, de fato sua história. A existência de um campo de concentração para pessoas excluídas e isoladas da sociedade, que foi sufocado e escondido por anos do mundo é um dos maiores problemas de administração e controle de saúde do país, com um número de mortos assombroso e que pouquíssimas pessoas tem conhecimento. As perguntas que não querem calar são: Quantas outras histórias sobre o nosso país ainda estão ocultas? Quantas vidas foram necessárias para guardar essas histórias em segredo?
Gostou de conhecer um pouquinho da história do país?
O documentário está disponível na plataforma Youtube e uma amostra do livro está disponível no Google Books, para você conhecer um pouco mais sobre o Holocausto Brasileiro.
Link do documentário: https://www.youtube.com/watch?v=5eAjshaa-do
Link da amostra: https://books.google.com.br/books?id=OJmHDwAAQBAJ&lpg=PP1&hl=pt-BR&pg=PP1#v=onepage&q&f=false
Referências:
ARBEX, Daniela.Holocausto brasileiro.1.ed. São Paulo: Geração Editorial, 2013.
MAYA NETO, Olegario da Costa. Necropolítica da colonialidade no Brasil: segregação e desumanização no Hospital Colônia de Barbacena e na Cracolândia, em São Paulo. MERIDIONAL Revista Chilena de Estudios Latinoamericanos, Chile, n. 11, p. 149-177, out.2019-mar.2019
ARBEX, Daniela. Holocausto Brasileiro. 1ª ed. São Paulo: Geração Editorial, 2013, 255 p. ISBN 978-85-8130-157-0. Disponível em:< https://www.intrinseca.com.br/livro/873/>. Acesso em 14 de Julho de 2020.
Documentário Holocausto Brasileiro, 6 de outubro de 2016. Disponívem em:< https://livrariataverna.com.br/ciencias-humanas/1898-holocausto-brasileiro-daniela-arbex-9788581301570.html>. Acesso em 14 de Julho de 2020.