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Revistas em quadrinhos: como inseri-las no processo de ensino de Química e como elas podem ser utili



As revistas em quadrinhos, também chamadas gibi ou HQ, são sucesso mundial desde o início de suas produções, sejam elas de quaisquer gêneros, tendo um óbvio destaque as histórias em quadrinhos de heróis. No Brasil, “As aventuras de Nhô Quim” ou “Impressões de uma viagem à corte”, de Ângelo Agostini, são consideradas como a primeira HQ nacional, publicada pela primeira vez em 30 de janeiro de 1869, na revista “Vida Fluminense” do Rio de Janeiro (ALVES, 2001). Outra nacional de reconhecido destaque é a revista da Turma da Mônica, criada por Maurício de Souza em 03 de março de 1963.


Um destaque dado para as Histórias em Quadrinhos é sua liberdade criativa, onde qualquer assunto/gênero pode ser discutido. Na Turma da Mônica, por exemplo, há ampla diversidade nos temas abordados: a juventude das crianças, as pirraças particulares dessa idade, e até a vida na roça, com o personagem Chico Bento. Tamanha diversidade de possibilidades é possível abordar temas científicos; seja específico da química, ou outras áreas.


No caso do ensino de Química, por haver uma abstração natural para compreender como um fenômeno ocorre, faz-se necessário meios didáticos que auxiliem no desenvolvimento do processo de abstração para que ocorra uma aprendizagem efetiva. Vergueiro (2010) salienta que, em muitos países, os órgãos oficiais de educação também implantaram nos currículos escolares o uso das HQs. O mesmo autor enfatiza algumas de suas importâncias no contexto escolar:

i.) Os estudantes querem ler os quadrinhos; ii.) Palavras e imagens, juntos, ensinam de forma mais eficiente; iii.) Existe um alto nível de informação nos quadrinhos; iv.) As possibilidades de comunicação são enriquecidas pela familiaridade com as histórias em quadrinhos; v.) Os quadrinhos auxiliam no desenvolvimento do hábito de leitura; vi.) Os quadrinhos enriquecem o vocabulário dos estudantes; vii.) O caráter elíptico da linguagem quadrinística obriga o leitor a pensar e imaginar; viii.) Os quadrinhos têm um caráter globalizador; ix.) Os quadrinhos podem ser utilizados em qualquer nível escolar e com qualquer tema (VERGUEIRO, 2010, p. 21-25).


As revistas, além disso, trazem temas que podem ser abordados e discutidos no âmbito escolar por se apresentarem de alguma maneira na realidade dos estudantes. Para o ensino de Química, os quadrinhos de caráter científico são de alto potencial para discussões como, por exemplo: corpos macromoleculares e micromoleculares; ligações químicas, interações intermoleculares, estudo sobre propriedades de substâncias, dentre outras temáticas essenciais à compreensão acerca do estudo da Química. Tendo em vista essas possibilidades, é possível, dentro das Histórias em Quadrinhos, fazer uma abordagem de temas didáticos - não apenas como material de apoio ao assunto abordado ou uma forma de aumentar o interesse do aluno, mas como material, de fato, didático, (FRANCISCO JUNIOR, 2017) que auxilie na abstração que a química exige.


Para Paulo Freire (1996) é importante relacionar os conteúdos abordados com a realidade, vivências e experiências dos alunos.


“Por que não aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas da cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem-estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à saúde das gentes. Por que não há lixões no coração dos bairros ricos e mesmo puramente remediados dos centros urbanos?” (FREIRE, 1996).


Fazer uso, desse modo, das HQs como recurso, considerando o seu potencial didático, pode proporcionar o desenvolvimento da leitura crítica, independente, da capacidade de abstração e da habituação a leitura. Assim como corrobora Bamberguer:


O desenvolvimento de interesses e hábitos permanentes de leitura é um processo constante, que começa no lar, aperfeiçoa-se sistematicamente na escola e continua pela vida afora, através das influências da atmosfera da cultura geral e esforços conscientes da educação e de bibliotecas públicas. (BAMBERGUER, 1987, p. 92).


É importante que as obras escolhidas para introduzir tais conteúdos programáticos sejam de qualidade e apresentem pautas que possibilitem as discussões e indagações necessárias. A seguir, algumas revistas que podem ser utilizadas nos processos pedagógicos:

Maus: A história de um sobrevivente


Há quadrinhos diversos e que abrangem muitas temáticas que podem ser inseridas nas discussões interdisciplinares durante o ensino. Algumas obras conceituadas e premiadas como Maus, de Art Spiegelman, pode ser utilizada como recurso didático tanto no ensino de química, com enfoque no estudo sobre as características e propriedades das substâncias que foram desenvolvidas durante a Segunda Guerra Mundial e seus impactos, quanto no de história.


Imagem: Maus: A história de um sobrevivente

Fonte:https:<//geekquantico.com.br/wp-content/uploads/2018/05/MAUS-00.png>

Quando falado sobre a liberdade criativa, eis a prova mais concreta: Neurocomic. Uma viagem dentro do cérebro, quase que literalmente. Como funciona afinal o cérebro humano? A resposta pode ser encontrada nessa HQ, onde o leitor é convidado a explorar junto ao personagem, que encontra vários outros personagens reais que foram importantes no estudo do “local” onde esses personagens se encontram - o cérebro. Esse é um bom exemplo de meio didático, de caráter interdisciplinar, voltado para exploração do que ocorre no cérebro humano, podendo ser utilizado na Química, Biologia, dentre outras disciplinas no processo de ensino graças à sua riqueza em conteúdo.


Imagem: Neurocomic: A Caverna das Memórias

Fonte: <https://www.darksidebooks.com.br/neurocomic-a-caverna-das-memorias/p>

Essas são algumas obras reconhecidas e renomadas com grande potencial para o ensino não só de Química, mas o ensino interdisciplinar. É importante, sobretudo, que não sejam utilizados isoladamente, sendo responsabilidade do mediador levar as indagações, investigações, experiências e demais meios necessários à efetivação da aprendizagem. Dessa maneira, além de proporcionar o ensino de qualidade, são proporcionadas também a habituação a leitura e o desenvolvimento da visão crítica e investigativa dos estudantes.









Referências

ALVES, José Moysés. Histórias em quadrinhos e educação infantil. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 21, n.3, p. 2-9, set. 2001 . Disponível em<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932001000300002&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 28 maio 2020.

VERGUEIRO, Waldomiro. A linguagem dos quadrinhos: uma “alfabetização” necessária. In: RAMA, Ângela; VERGUEIRO, Waldomiro. (Orgs.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2010.

FRANCISCO JUNIOR, W. E., GAMA, Elton Junior Siqueira., História em quadrinhos para o ensino de química: contribuições a partir da leitura de licenciandos. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias Vol. 16, Nº 1, 152-172 (2017).

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa – São Paulo: Paz e Terra, 1996.

BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. São Paulo: Ática, 1987.

Spiegelman, Art. Maus: A história de um sobrevivente. Imagem disponível em: <https://geekquantico.com.br/wp-content/uploads/2018/05/MAUS-00.png>. Acesso em 31 de maio de 2020.

GONICK, Larry; CRIDLLE, Craig. Química geral em quadrinhos. São Paulo: Blucher, 2013.

ROS, Hana; FARINELLA, Matteo; Neurocomic: a caverna das memórias. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2018.

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