CAMADA DE OZÔNIO, NOBEL E ATUALIDADE
A camada de ozônio frequentemente é assunto de vários debates e não é de maneira avulsa. A importância da mesma para toda a vida na terra é indiscutível. Mas os debates a cerca dela vai desde esse ponto, de sua importância protetora da vida na terra absorvendo parte dos raios ultravioletas, até debates políticos, econômicos etc. Principalmente quando algum produto é desenvolvido e este gera fortunas para grandes empresas fabricantes ou fornecedoras destes, e logo mais, quando é percebido que tal produto é danoso para a camada de ozônio e o mesmo tem de ser proibido, pois ferir a camada de ozônio continuamente causaria danos escatológicos na vida na terra.
Desse modo, tomando como base o livro Botões de Napoleão (LE COUTEUR, Penny; BURRESON, Jay, 2006) podemos usar como exemplos os CFCs (clorofluorcarbonetos) – compostos clorocarbônicos desenvolvidos para fins refrigerantes. Isso tornou a conservação de alimentos mais práticos; o comércio com outros países envolvendo o transporte de carnes bovinas e ovinas foram possíveis, pois outrora o produto chegaria estragado, inviabilizando tal transação. Além do mais, é certo que quando algo é desenvolvido em determinada área, tem-se uma abrangência de possibilidades para a utilização do mesmo produto ou um de seus derivados. Logo, foram desenvolvidos compostos como HCFCs (Hidroclorofluorcarbonos), que junto com os CFCs são fluidos sintéticos de refrigeração; os DDTs (diclorodifeniltricloroetano) usados como inseticidas; além da produção de aerossóis com tais compostos. Mas qual seria o problema disso se haviam solucionado o problema de conserva de alimentos, haviam desenvolvidos inseticidas e muito dinheiro estava sendo circulado com os diversos produtos desenvolvidos a partir desses? Tivemos grandes avanços e em áreas diversas, não é mesmo? A resposta de fato é simples, porém, danosa: o Cloro. Os responsáveis por apontar esse problema, que,sem querer acreditar no assustador resultado de seus cálculos, o radioquímico americano F. Sherwood Rowland e o químico mexicano Mario Molina rechecaram tudo cuidadosamente e nada encontraram de errado. Suas pesquisas sobre a presença de clorofluorcarbonetos na atmosfera levaram-nos a uma conclusão (...): a camada de ozônio estava seriamente ameaçada por moléculas gasosas geradas pelo homem. (ROCHA-FILHO, 1995).
A decomposição dessas substâncias - e não moléculas, como põem o autor - é extremamente lesiva à camada de ozônio, pois, essas espécies (radicais Cl•) desencadeia um processo que destrói o O3(g).
E por falar nele, o ozônio (O3(g)), que forma a referida camada é, um alótropo triatômico do oxigênio (O2(g)). Acima da camada, há moléculas de oxigênio, do qual tem sua ligação diatômica rompida continuamente devido a forte radiação solar. Os átomos de oxigênio rompido dessa ligação são deslocados para baixo da camada, onde há outras moléculas de O2. Um átomo de oxigênio reage com essas moléculas formando ozônio: O + O2(g) → O3(g).
A radiação solar rompe agora a molécula de ozônio, formando uma molécula de oxigênio e um átomo de oxigênio. O3(g) → O + O2(g).
Dois átomos de oxigênio reagem formando sua molécula. E essa espécie de ciclo é contínua. No entanto, o cloro dos compostos clorocarbônicos aumenta o número de vezes que as moléculas são rompidas, o que não seria um problema se o mesmo agregasse na produção proporcional das mesmas – o que não acontece e por isso é prejudicial.
O radical de Cloro (Cl•) ao colidir com a molécula de ozônio reage formando monóxido de cloro e oxigênio: Cl + O3 → ClO(g) + Essa molécula de monóxido de cloro formada reage com um átomo de oxigênio (proveniente do rompimento da molécula de O2 já mencionado anteriormente) formando uma molécula de O2 e deixando o radical livre novamente: ClO(g) + O → O2(g) + Cl.
Como destacado no livro Botões de Napoleão (LE COUTEUR, Penny; BURRESON, Jay, 2006) um único átomo de cloro destrói/rompe o equivalente a cem mil moléculas de ozônio antes de ser desativado. Acrescentemos a isso altas concentrações desse gás que foram liberadas por um grande período de tempo e podemos ter uma noção do dano sofrido.
Ao ter ciência de tais danos, o Protocolo de Montreal foi criado, em 1987, para abolir o uso destes. E obviamente, houve países que ousaram discordar, temendo uma queda nos seus lucros; pura ganância financeira. A grande maioria esteve de acordo, consciente de que os danos causados na camada de ozônio não fere somente ela, mas nós mesmos e a vida em geral na terra.
Passado-se mais de trinta anos desde a criação do Protocolo de Montreal, quais foram os resultados? Como está a situação da camada de ozônio nos dias atuais? É de se esperar que o protocolo tenha funcionado e tenhamos resolvido tal problema, não é verdade? vamos descobrir isso juntos.
ATUALIDADE
Uma publicação feita em 25 de março deste ano na revista Nature (revista científica britânica que está em ativa desde 1869) trás boas notícias em relação a situação atual da camada de ozônio. Após trinta e três anos desde a publicação de Rowland e Molina na mesma revista (ROCHA-FILHO, 1995) o assunto volta à tona com o artigo de Antara Banerjee[1] e pesquisadores colaboradores. Segundo Banerjee (et al, 2020) a camada de ozônio está se recuperando e aponta que o principal responsável por isso é o já citado Protocolo de Montreal.
Os danos na camada de ozônio influenciaram também na circulação atmosférica. Os ventos do hemisfério sul se movimentaram em direção não usual, que é a tendência mais para o sul devido a degradação da camada sob a Antártica, no século XX, incluindo uma mudança de direção no jato de latitude média, uma tendência positiva no Modo Anular do Sul e uma expansão da célula Hadley (Banerjee et al, 2020).
Com tal pesquisa, eles conseguiram identificar uma mudança desse ‘padrão anormal’ que se havia observado outrora, indicando uma recuperação da camada de ozônio devido ao fato dos ventos e movimentarem em seu ‘padrão normal’. Como há a degradação não como um todo, mas em picos diferentes, isso gera o desequilíbrio da circulação, pois haverá áreas onde a temperatura do planeta está absorvendo menos radiação solar, ou seja, essa região será mais quente.
No entanto, por mais que estejamos em períodos onde há diariamente índices altíssimos de emissão de gás carbônico na atmosfera (um outro ‘inimigo’) é uma notícia animadora dados as circunstâncias, nos fazendo saudar a atitude daqueles que inicialmente assinaram o Protocolo de Montreal com uma preocupação real com o mundo; nos dias atuais, devemos tomar esses como exemplo.
[1] Do Instituto Cooperativo de Pesquisa em Ciências Ambientais na Universidade do Colorado Boulder, em Boulder, CO, EUA. Divisão de Ciências Químicas, Laboratório Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica e Sistema Terrestre (Nature, 2020).
Referências Bibliográficas:
Banerjee, A., Fyfe, J.C., Polvani, L.M. et al. A pause in Southern Hemisphere circulation trends due to the Montreal Protocol. Nature 579, 544–548 (2020).
COUTEUR, Penny e BURRESON, Jay. Os botões de Napoleão: As 17 moléculas que mudaram a história. Jorge Zahar editor Ltda. 2006. 276p.
ROCHA-FILHO, R.C; Camada de Ozônio dá Nobel. Química Nova na Escola; n. 2; p.10-11;1995.